Não se deixe consumir
- Bitten Magazine
- 16 de dez. de 2018
- 3 min de leitura
Vivemos numa sociedade consumista - isto não é novidade. Todos sabemos que o ímpeto de adquirir produtos nos corre no sangue.
Em primeiro lugar, é importante distinguir os dois tipos de consumo: o de bens essenciais para satisfazer as nossas necessidades básicas e o supérfluo, caracterizado pela aquisição de artigos ou serviços, destinados a saciar a sede por um status social elevado. Depois, é também necessário avaliar o nível de consciência com que uma compra é concretizada. Precisamos daquele produto? Estamos a pagar o preço justo por ele? Haverá outra opção similar mais rentável?
Em bom português, dizemos, muitas vezes e de forma correta, que “ninguém dá nada a ninguém”. Todas as marcas têm por detrás uma estratégia de marketing bem estudada e, por algum motivo, valorizamos mais umas do que outras. Isto é fruto de um trabalho diário, fruto de métodos publicitários eficazes, que nos implantam no subconsciente uma conceção positiva do produto e nos levam a pensar que a qualidade é elevada, sem termos averiguado a veracidade do facto.
Se deambular, com atenção, por um centro comercial, é possível perceber do que lhe falamos. Comecemos por um exemplo simples: imagine que lhe apetece um café. A oferta é variada. Pode escolher entre o que está mais próximo, aquele que sabe que tem o preço mais reduzido ou pode optar por ir ao mais dispendioso, mas que lhe dá algo mais do que café em si, como um ambiente agradável para passar algum tempo. Independentemente da escolha, aconselhamos sempre a ponderá-la.
Regra geral, a margem de lucro de um café, nestes espaços, é exacerbada, ou seja, pagamos muito acima do seu valor real, só pela conveniência. Outras vezes, pagamos pelo valor imaterial associado – há marcas especificas que oferecem um produto de qualidade igual ou inferior a outros tantos, mas que, como conseguiram que os seus consumidores fossem etiquetados com determinados ideais, alcançam um nível de sucesso que qualquer outra não consegue. Pedimos-lhe apenas que faça o seguinte exercício: vale a pena pagar quase 5,00€ por uma chávena de café e uma garrafa de água, que, num supermercado, custa menos de 0,50€? Cumpriu o objetivo? Saciou-o de uma forma que qualquer outro não conseguiria? Valeu a pena o investimento? Tinha sido igualmente proveitoso ter feito o mesmo consumo noutro lado qualquer, poupando mais de metade do que aquilo que gastou?
Passemos agora aos supermercados. Dia após dia, emergem novos produtos, vindos dos mais diversos locais, com as mais diversas especificidades e cada vez mais focados em satisfazer tendências do que as necessidades essenciais. Os produtos vão evoluindo, procurando uma oportunidade de atingir novos segmentos. Se antigamente fosse comprar um pacote de leite (e não recuando muitos anos), tinha algumas marcas e a opção magro, meio gordo ou gordo. Agora, encontra leite sem lactose, leite com sabores e leite que não é leite, como é o caso das “bebidas vegetais” (de arroz, de soja, de amêndoa, de aveia), para aqueles que têm intolerância ao original, com um preço muito superior.
Encontrar o mesmo tipo de produto com um elevado diferencial no custo, só porque apresenta um branding bem executado, também é uma constante. Por outro lado, no mundo do vestuário e acessórios, é necessária especial atenção aos materiais de fabrico. Em lojas de luxo, se olhar para a etiqueta, pode acreditar que, em algumas, se arrisca a pagar um balúrdio por uma peça confecionada com materiais de fraca qualidade (poliéster, nylon ou poliamida, geralmente misturados com lã ou algodão).
Questione-se também até que ponto preço e qualidade estão associados e não há interferência do significado da marca. Asseguramos-lhe que não é inédito uma peça de luxo revelar uma durabilidade curta. Não é inédito também apresentar um aspeto pouco perfeito nas prateleiras. Por fim, certifique-se de que não existe, numa outra loja, uma opção semelhante, que cumpre o mesmo propósito e é mais “amiga” da carteira.
Seja um consumidor ativo e pensante, ciente daquilo que lhe é oferecido. Comprar não deve ser só uma necessidade ou um prazer: deve ser uma ciência que proporciona um equilíbrio entre ambos e que lhe permite obter o expoente máximo de eficiência orçamental.
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